domingo, 31 de agosto de 2008

Um Pouquinho Sobre ETNOMATEMÁTICA

A Etnomatemática é um conjunto de concepções a respeito da matemática, de caráter multicultural, científico e educativo. Traz uma abordagem diferenciada do conhecimento matemático, pois considera saber, todas as estratégias utilizadas pelos povos de culturas diferenciadas, contrapondo-se ao conhecimento científico europocêntrico.

Para se adquirir este novo olhar é necessário que o educador se despoje dos medos e preconceitos, deixando de lado os dogmas sobre o Homem, a Sociedade, a Cultura e a Educação. Considerada uma Etnociência, segundo D'Ambrósio, a Etnomatemática relaciona diretamente os fenômenos científicos e tecnológicos com a formação cultural, econômica e social de um determinado grupo e as relações entre diversos grupos. O respeito às diferenças, nesse contexto multicultural, é fundamental. Daí a sua relação com a antropologia, que traz uma concepção relativizadora ao estudo das sociedades.

Nascida de forma mais sistêmica do Programa de Pesquisa Etnomatemática, desenvolvido por Ubiratan D'Ambrósio, com a intenção de entender o saber/fazer matemático na História da Humanidade, contextualizado em diferentes grupos sociais.

Segundo D'Ambrósio, a Etnomatemática pode ser definida como uma prática adquirida, sendo etno – o ambiente natural, social, cultural e imaginário; matema – explicar, aprender, conhecer, lidar com; tica- modos, estilos, artes e técnicas. Assim, o Programa Etnomatemática traz um enfoque epistemológico associado à historiografia, partindo da realidade para a fundamentação cultural e a intervenção pedagógica.

De caráter dinâmico, não concebendo uma teorização final sobre os modos de saber/fazer matemáticos de uma cultura, D'Ambrósio a coloca numa zona de congruência entre a Matemática e a Antropologia Cultural.

Segundo Sebastiani Ferreira, esta Etnociência pode ser classificada como um acento, movimento ou filosofia, ou seja, um paradigma. O casal Marcia e Robert Ascher a define como o estudo de idéias matemáticas de povos não letrados. Já para Marcelo Borba, é a matemática praticada por grupos culturais, grupos de trabalhadores ou moradores.

Paulus Guedes localiza a Etnomatemática dentro da Matemática, da Etnologia e da Didática da Matemática e Gelsa Knijnik chama a atenção para o seu caráter investigativo e pedagógico.

Em meio a tantas abordagens, Sebastiani Ferreira propõe um modelo pedagógico onde há uma relação dinâmica entre ação, contexto social, etnografia, etnologia, modelo, técnicas e estratégias matemáticas e solução, soluções ou não-soluções de problemas.

Diversas são as críticas à Etnomatemática entre elas estão as de Milroy, Dowling e Taylor.

Milroy salienta o paradoxo existente entre a possibilidade de alguém escolarizado através da Matemática Ocidental Tradicional aprender através de pensamentos matemáticos diversos. Já Dowling acentua a presença de uma manifestação ideológica monoglóssica no discurso Etnomatemático. Por fim, Taylor aponta o excesso de um discurso político-pedagógico e a carência de um discurso epistêmico.

A Etnomatemática procura reconstruir a História da Matemática. A concepção europocêntrica que classifica a matemática de povos considerados "inferiores" como primitiva é errônea e preconceituosa. A Etnomatemática coloca esse pensar/fazer matemático marginalizado numa posição de valor acentuado, procurando inseri-lo no meio curricular e científico.

A proposta do currículo Etnomatemático é refazer o ensino, valorizando a matemática de grupos culturais diversos, incluindo os conceitos matemáticos informais. Nesse contexto, para Ambrósio, é preponderante um repensar do papel do educador, devendo ele assumir um comportamento interativo.

Bill Barton salienta o papel político da Etnomatemática, pois bem compreendida e praticada, pode diminuir o racismo, o colonialismo, o imperialismo e a marginalização dos povos.

Powell e Frankenstein sugerem um currículo pautado no conhecimento dos alunos, possibilitando a criatividade dos professores e maior autonomia na escolha dos tópicos da matemática acadêmica.

Assim a metodologia da Modelagem Matemática é escolhida como mais adequada, pois possibilita a investigação de concepções, tradições e práticas matemáticas de um determinado grupo.

A Etnogeometria é outro ramo da Etnociência criado por Oscar Pacheco Rios, que a define como o estudo e conhecimento da geometria segundo o aspecto cultural dos povos e dos laços de civilização que os caracterizam.

A Etnopedagogia, segundo Valdemar Vello, aborda a totalidade das vivências de aprendizagem dos membros de uma comunidade que se interagem num determinado tempo e espaço. Tem como meta principal, identificar novos etnomodelos e etnométodos que possam ser empregados para alcançar a plenitude humana e a paz.

Daí a relação direta da Etnomatemática com a Etnopedagogia. A primeira busca como referência e modelo de atuação a segunda, tendo a Pedagogia Freiriana, um lugar de destaque, aliada à Pedagogia Intercultural.

Para que ocorram as mudanças necessárias no âmbito educacional, garantindo uma prática Etnomatemática, é necessária uma transformação qualitativa na construção de uma sociedade de aprendizagem. Neste ínterim, o papel do professor é o foco central, pois a sua formação e a sua atuação pedagógica determinam os rumos da educação.

O método dialógico de Paulo Freire, que tem como instrumento básico o diálogo, funciona como um veículo libertador, assegurando a democracia, essencial à educação Etnomatemática, tanto quanto a contextualização e a comparação. Esta prática Freiriana compreende três etapas: investigação, tematização e problematização.

Nesse contexto o professor é considerado uma forte influência, colocando-se como igual ao aluno, a ponto de estabelecer uma cumplicidade e reciprocidade capaz de assegurar a autonomia e a troca de saberes necessários à consagração da Pedagogia Etnomatemática.

A Etnomatemática pode ser posta em ação paulatinamente pelos educadores comprometidos com o desvelamento dos grupos sociais em relação à sua situação no mundo. Através dela, a matemática, assim como as outras ciências, que se elabora e constrói de acordo com a realidade vivenciada, vai ganhando um campo cada vez maior no meio acadêmico, científico e escolar. A Hegemonia científica das civilizações capitalistas e globalizantes vai cedendo espaço para os saberes locais, munindo os indivíduos marginalizados, de coragem e sabedoria necessárias ao refazimento da sua cidadania plena.

2 comentários:

Valdemar Vello disse...

Excelente!

Anônimo disse...

UM DOS MELHORES TEXTOS QUE JÁ LI NESSA PERSPECTIVA ETNO....EXCELENTE!!!1

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