Há uma turbulência na atmosfera escolar que não é de hoje, sabemos.
Uma angústia sobre a necessidade de mudanças urgentes toma o meu corpo e as minhas ideias, buscando alívio nas posturas ousadas de professores eloquentes, alegres e aventureiros que invadem os espaços educativos com o novo, com a fome e o alimento.
Mas fome de que?
Fome de uma escola que ensine para frente, que pense nas crianças e nos jovens como fazedores do presente e construtores do futuro.
Fome de uma educação que revele o que está dentro, que gere ideias e alimente a alma de sonhos, desejos e alegrias.
Ainda insistimos em ensinar com o olhar voltado para o passado. Já diz o ditado: "águas passadas não movem moinhos." Então, porque insistimos em despejar conteúdos e metodologias desprovidos de sentido no mundo real dos educandos?
Os desejos e sonhos devem ser as águas a mover os moinhos da educação e não este conteudismo exacerbado, repleto de datas, nomes, vultos e fórmulas infindáveis.
Quando vejo professores com olhares apáticos, ombros caídos, face carcomida pelos inúmeros desgastes sofridos, a angústia cresce, pois são estes educadores tristes, descrentes de sonhos que alimentam uma água barrenta de 500 anos de institucionalização do racionalismo exacerbado e do desejo aniquilado. É como se fosse pecado desejar, como se o desejo desviasse o ser humano da alegria e da sublimação. Então, teorias diversas ecoam nos corações de educadores, fazendo uma ode à apatia:
"_ É preciso não desejar, pois o desejo vem da carne e a carne causa sofrimento. Não deseje, não sonhe, apenas execute."
E desfilam "Senhores do saber" por entre as fileiras de alunos, as suas desesperanças.
A escola continua ensinando velharias. A escola continua ensinando a desesperança.
É preciso pensar no "humano demasiado humano" para construir uma educação do momento presente. É preciso resgatar a esperança.
É certo que a transcendência deve ser valorizada, senão estaríamos fadados ao imediatismo da carne, alimentando apenas os desejos materiais. Mas uma situação não anula a outra _ O desejo também deve transcender. E isso pode ser feito por educadores da esperança!
São pais, mães, tios, tias, avós , professores e professoras, sacerdotes e líderes comunitários que, conduzindo o sentimento, a poesia, a arte e o saber ao estado carnal da alegria, materializam os sonhos e desejos; sentem no olhar, nos cheiros e sabores as mil e uma possibilidades de ensinar e aprender.
É preciso educar como quem traga a vida com toda a sua plenitude carnal e metafísica, sentindo na pele o desejo de ser e de fazer, mesmo que doa, fira e desestruture as ténues barreiras da sensatez.
Oh educadores demasiadamente sensatos, a lucidez está na coragem de lutar pelos sonhos, desejos e alegrias, resgatando a esperança e educando para a vida presente.
Transporta para dentro de si, as águas da insensatez capazes de mover os moinhos da esperança e encher de alegria as salas de aula, as escolas, os lares, as praças e a vida.
Senhores, deixemos as velharias, olhemos para frente!
Saudações fraternas
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