Aqui sentada na cama, minha filha brinca de fazer confetes de carnaval, usando como ferramentas revistas e um perfurador de papel.
No seu mundo de faz de conta, tudo é carnaval, alegria e ansiedade, pois amanhã irá ao baile da escola vestida de mulher maravilha e com um saco de confetes feitos por ela.
Minha filha, após dois anos de luta, sofrimento, ansiedade, inseguranças que envolveram toda a família, é criança novamente. Este é para mim o maior símbolo da superação: a capacidade que a criança tem de suplantar as dificuldades e encontrar no seu universo de faz de conta, razões para viver "tão graves como convém a um Deus e um Poeta", lembrando Fernando Pessoa.
Minha amiga Elaine, só nós íntimamente sabemos o tamanho da dor que sentimos. Não há como mensurar a dor.
Cada uma de nós, mulheres sabe o quanto vale à pena lutar, sofrer, se desapontar, recomeçar e nunca deixar de crer.
Assim são as crianças. Continuam acreditando nas infinitas possibilidades de sentir-se feliz. Não perdem as esperanças, acreditam nos adultos que as protejem, acreditam no invisível, no intangível, em alcançar as estrelas e por escadas para bater papo com uma lua teimosa que insiste em nos espiar.
Era assim que ficávamos eu e ela, muitos fins de tarde. Deitávamos, olhávamos o pôr do sol e conversávamos com Deus para que a tristeza passasse. Esperávamos as estrelas virem nos espiar e então eu dizia para ela que as estrelas tomariam conta do nosso sono, o meu o dela e o do meu esposo. Assim, os dias passaram e eu chorava escondido e às vezes bem alto. Às vezes, choro sem lágrima.
Mas demanhã, Elaine, querida, Clarice (minha filha, de apenas 9 anos de idade) acordava e dizia:
_ Mãe, vamos levantar que o sol está lindo e hoje será um lindo dia!
E mais um dia vivíamos.
Hoje estamos superando as dores, acomodando as cicatrizes, refazendo a alma. Mas, acredite, a alegria de Clarice se refaz todos os dias, quando ela brinca de faz de conta e vê que o nosso mundo é cheio de razões para viver.
Elaine, há sempre razão para viver!
E quando esta razão dói, façamos como Clarice. Vivamos de faz de conta! E no faz de conta, viveremos de verdade!
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