A educação no Brasil passou por várias mudanças, desde o ensino dos jesuítas até os dias atuais. Contudo, o ensino tradicional, excludente, tecnicista, por um lado e, do outro, redentor ainda se configura como bases da prática pedagógica na maioria das instituições escolares.
A relação ensino-aprendizagem está alicerçada em diversas correntes filosóficas, psicológicas e pedagógicas que emergem das mudanças sócio-políticas e culturais ocorridas a cada momento histórico. Assim, para compreender o percurso da Educação no Brasil, é preciso entendê-la como um processo político, econômico, histórico e cultural; que existe dentro de um contexto que determina suas características. Pensando no período colonial, as primeiras instituições de ensino tinham como objetivo educar e catequizar os colonos, segundo as normas do catolicismo e os interesses político-econômicos da coroa portuguesa. Os estudantes eram vistos como seres ignorantes que precisavam absorver o saber superior e total dos seus professores. Quantas escolas e quantos professores ainda hoje se colocam como detentores do saber, promovendo um abismo entre professor e aluno, como aquele que somente ensina e aquele que somente aprende? Inúmeras.
A disciplina, o rigor científico, o método da experimentação empirista, o inatismo, a hierarquia ainda perduram no interior das escolas, convivendo com uma falsa democracia, com um engodo cultural chamado de respeito às diferenças e autonomia. Digo engodo, porque se estabelece a cultura do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”; porque embora os PCN’s, os cursos de capacitação e a própria universidade ensinem o professor e o pedagogo a conhecer os alunos e promover o conhecimento de forma relativizadora, eliminando os preconceitos, descortinando o véu dos estereótipos, para que cada aluno perceba a si mesmo e ao outro como um ser bonito, capaz e repleto de habilidades; e, embora o professor discurse sobre a democracia, levantando a bandeira do ensinar a aprender, na prática o que se percebe é uma sala de aula de quinhentos anos. Alunos devidamente dentro de uma forma, livros como manuais, quadro, giz, data show como fontes únicas de aprendizado. A postura de professores que só ensinam e alunos que só aprendem.
Há nesse contexto, um paradoxo, a educação brasileira é “um paradoxo estendido na areia”. É um aparelho ideológico dos mais poderosos e, por isso, a conscientização e mudança ainda é lenta. Mas ainda que em passos vagarosos, a mudança ocorre. Porque a sociedade é outra, as necessidades são outras e as crianças e adolescentes, cada vez mais inteligentes exigem outra escola, outra postura, outro professor. Se todos os educadores conseguissem acompanhar as mudanças do seu tempo, estando até mesmo à frente dele, com certeza o nível da educação no Brasil seria outro, bem superior.
É bom lembrar que a nossa política educacional não é feita só de espinhos. Conquistamos avanços importantes! O aluno, hoje, é mais ouvido, os livros didáticos têm uma qualidade bem superior e as escolas estão mais contextualizadas com a realidade dos seus alunos, trabalhando temas que antes nem se pensava, como a identidade, o trabalho, a cultura e a arte. Penso que a Revolução de 64 foi responsável por este estacionamento da escola e até mesmo retrocesso do pensamento educativo. Graças às transgressões, às lutas e à crença na utopia disseminadas por pessoas como Paulo Freire, não estamos piores do que poderíamos está. Temos avanços, é certo, mas temos ainda muito que fazer, sabendo que pensar sobre educação e mudança é algo contínuo e permanente, com a certeza de como dizia Carlos Drummond de Andrade, nunca ficará pronta uma edição convincente.
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